PRINCÍPIOS

PRINCÍPIOS

Ao constitui-se sob a referência da psicanálise, a instituição LUGAR define como princípio que o sujeito em torno do qual mobiliza esforços não é apenas o indivíduo portador de um corpo biológico cujas funções específicas lhe garantem um endereço no espaço habitado pelos humanos; nem tão somente aquele que a partir de funções psicológicas, apresenta um modo de comportamento que o identifica como “pessoa”, nem tampouco aquele que, através dos tempos, vem dando provas de sua incrível capacidade para transformar a realidade, inventando, no bojo do processo sócio-cultural, fórmulas possíveis de viver. Ele é um pouco de tudo isso, e mais alguma coisa.

Sob a referência da psicanálise, a instituição LUGAR entende que esse sujeito que demanda serviços especializados dos profissionais que compõem sua equipe é, antes de tudo, alguém que sofre ou é tido como causa de sofrimento de seus familiares. Embutido na demanda de tratamento, há quase sempre o desejo de que alguém possa fazer a promessa de livrar tal sujeito desse sofrimento do qual se encontra prisioneiro, e que se expressa por meio dos mais variados sintomas. Promessa, por certo, impossível se ser assumida pelo profissional procurado, mas que pode ser o ponto de partida para a instalação do clima de “escuta”, mediante o qual a relação terapêutica irá se estabelecer. Isso significa que, embora impossibilitado de responder do lugar de saber onde o paciente o situou, é essa a posição que o profissional terá de suportar, no primeiro momento, única via capaz de levar ao estabelecimento da relação transferencial, sem o que qualquer tratamento estará comprometido.

Desse modo, permeada pelo referencial psicanalítico, toda a prática institucional estará marcada pela recusa do lugar de saber, o que não quer dizer desprezo pela competência técnica, no que concerne às diferentes áreas envolvidas. O psicólogo, o psicopedagogo, o psicomotricista, os profissionais da área médica e quaisquer outros chamados a intervir no processo, precisam demonstrar domínio de um conhecimento especifico, base de sustentação teórica de sua prática clínica. A recusa do “lugar de saber” define, na verdade, uma postura e um estilo radicados na crença de que o paciente é detentor de um saber acerca de si mesmo, o que implica, da parte do profissional, um procedimento de “escuta”, único meio através do qual esse saber poderá emergir. Importa, portanto, não apenas conhecer os meios de tratar os sintomas mediante os quais a doença se instalou no corpo de cada paciente, mas saber que mecanismos psíquicos foram utilizados por cada paciente, ao eleger sua doença, seus sintomas. E isso só iremos saber se houver, de nossa parte, a disposição de escutar.

Se a psicanálise é a referencia, ela não é, contudo, o único construto teórico a ser considerado, pois é no exercício da interdisciplinaridade, com função de transdisciplinaridade, como já foi explicitado em outra parte, que os procedimentos relativos a cada paciente serão definidos. Assim, toda prática de prevalência da psicanálise, enquanto saber teórico, sobre as demais áreas será rejeitada.

Definir os termos dessa relação entre a psicanálise e as demais áreas oferecidas pela instituição LUGAR implica conceber um modo particular de funcionamento cujas regras fundamentais são dedutíveis das formulações de Freud e de Lacan. Este modo de funcionamento pode ser descrito através dos seguintes pontos:

1) na instituição LUGAR, o paciente é considerado, ao mesmo tempo, como individuo biológico, ser psicossocial e sujeito do desejo. Desse modo, o diagnóstico e tratamento apoiam-se não apenas na observância dos sintomas manifestos, mas também na investigação do modo como o paciente construiu sua subjetividade e de que lugar fala para expressá-la;

2) na instituição LUGAR, o procedimento de escuta não é privativa da psicanálise, ampliando-se para outras áreas, resguardados, naturalmente, os limites dessa utilização cujo objetivo é garantir que cada paciente possa ser considerado, não importa o tipo de intervenção em jogo, também em sua dimensão subjetiva;

3) na instituição LUGAR, serão criadas, permanentemente, as condições para que todo tipo de tratamento possa realizar-se dentro de uma relação transferencial capaz de permitir ao analista situar-se no tempo e no lugar em que o paciente se encontra ancorado, de modo a fazê-lo transitar para uma nova situação, construída como desejável no encaminhamento da cura;